Vice-presidente da Microsoft prestes a se tornar rabino

Jun 29, 2023

“Nunca vi qualquer dissonância entre meu trabalho e minha fé”, diz o vice-presidente de mensagens e plataforma de análise em tempo real da Microsoft, Yitzhak Kesselman, o engenheiro Haredi mais sênior da empresa de tecnologia, que está dois degraus abaixo do CEO na escala administrativa da Microsoft. “Há uma razão pela qual temos um corpo físico”, explica ele. "Temos o propósito de fazer o bem no mundo. Cada vez que construímos tecnologias que realmente conseguem ajudar as pessoas, fico cheio de uma sensação de significado."

Kesselman foi um dos primeiros funcionários Haredi na Microsoft Israel e um dos líderes na integração da população Haredi na gigante da tecnologia. Ele ingressou na Microsoft há uma década e atualmente gerencia uma divisão de 400 funcionários em todo o mundo. Ele está por trás do desenvolvimento da capacidade de análise de dados em tempo real no Microsoft Fabric, um produto de análise e gerenciamento de dados ponta a ponta, que permite que funcionários em cargos não técnicos gerem insights significativos a partir de grandes quantidades de dados. “Este produto é o que acredito que irá alimentar a próxima geração de serviços de IA”, disse o CEO da Microsoft, Satya Nadella, ao apresentar o produto na conferência anual da empresa em maio.

“A IA desempenha um papel central em todos os produtos da empresa”, diz Kesselman. A Microsoft é a empresa que investiu maiores recursos no desenvolvedor OpenAI do chat-bot ChatGPT. De acordo com Kesselman, a Microsoft leva muito a sério as capacidades de IA e os efeitos que elas terão, garantindo que seu futuro será seguro.

Sobre aonde a IA nos levará, ele diz: “Como qualquer salto tecnológico, ela resolverá muitos problemas e tornará supérfluas as ferramentas atuais, e trará novos desafios e novas possibilidades. Numa nota pessoal, como Chabadnik, o Rebe de Lubavitch, que era um engenheiro elétrico de profissão, referia-se a descobertas científicas inovadoras como parte da preparação para um mundo melhor. Ao longo dos anos, o Rebe frequentemente se referia a questões científicas ou tecnológicas enquanto aprendia lições delas como parte das instruções de Deus. Este fenômeno certamente deveria ser visto como um reconhecimento da importância da ciência na vida, e até mesmo na vida judaica."

Cálculo e estrutura de dados pela manhã - Gemara à noite

Kesselman, 39 anos, casado e com cinco filhos, nasceu em Riga, Letônia (então na União Soviética). Aos seis anos ele imigrou para Israel com seus pais. Ele cresceu em Ramla e diz que desde muito jovem foi atraído pela tecnologia, apaixonado por computadores e software na escola primária. Tornou-se religioso no ensino médio em Tel Aviv, após o que se matriculou no programa acadêmico pré-exército Atuda. "De manhã eu estudava cálculo e estrutura de dados na Universidade de Tel Aviv, e à noite estudava tratados talmúdicos e literatura hassídica na yeshiva." Depois de concluir o bacharelado em ciência da computação, serviu como oficial na unidade de computação do IDF Intelligence Corps.

Kesselman está atualmente concluindo sua ordenação rabínica ortodoxa nos EUA. “Este é um ano inteiro de estudos intensivos, em que nos aprofundamos em questões relevantes para a vida cotidiana dos judeus. No programa que estou fazendo há sete exames, cada um deles oral e escrito, e para obter sucesso é necessário demonstrar conhecimento do assunto em toda a cadeia do direito, desde as decisões haláchicas até as últimas decisões. Isso é algo que desejo fazer há muitos anos."

No início de sua carreira, Kesselman foi diretor de desenvolvimento da Retalix (uma empresa de dados de varejo), onde gerenciou uma equipe relativamente grande. Ele ingressou na Microsoft em 2013 como gerente de produto. Ele deixou a Microsoft em 2021 para se tornar diretor de monitoramento do Google e em maio de 2023 retornou à Microsoft para se tornar vice-presidente.

“Apesar da excelente posição que estou hoje, é importante para mim ressaltar que minha trajetória profissional, principalmente no início, também foi acompanhada de dificuldades e de lidar com estigmas. Nos primeiros anos, antes da Microsoft, trabalhei em diversas empresas tanto em Israel como no exterior, e havia uma frase que se repetia - 'se todas as pessoas religiosas fossem como você', e admito que, embora tenha sido uma tentativa de lisonjear, nunca me senti confortável com isso. Acho que sou tão especial, assim como acredito que quanto mais pessoas diferentes conhecem e são expostas a uma linguagem diferente delas, maior será a compreensão de que, no final, somos todos semelhantes."